21 de fevereiro de 2012

Guião - Questões introdutórias (breves)


“Sermão de Santo António aos peixes” (1954)
do Padre António Vieira

Para testar os teus conhecimentos, consulta esta ligação:  Questões interativas



1. Que tipo de texto é este?

A ficha informativa da pág. 85 explicita o “texto expositivo-argumentativo”, portanto, o sermão estando incluído nesta sequência é classificado como um texto desse tipo (género textual).
Por outro lado, na pág. 82, onde se sistematiza os conhecimentos sobre o sermão, a estrutura do sermão é bem explicitada: 6 capítulos agrupados/distribuídos por 3 partes: exórdio[1], [invocação][2], exposição/confirmação[3], peroração[4].

No ponto 2.2. “Barroco: a estética da época de Vieira”, fala-se na importância da retórica (na pedagogia e na literatura) como “arte de persuasão”, com “processos de captação do destinatário, de manipulação dos seus afetos […]” semelhantes às artes plásticas e arquitetura. Notar: semelhanças com a linguagem do marketing, da publicidade.
Numa subalínea de 2.2,   2.2.1 – “Retórica e sermonística no Barroco literário” (pp. 45-46), explicitam-se “as bases teóricas sobre a arte de pregar em Portugal”, tal como são propostas no Sermão da sexagésima. No 2º parágrafo, são enumeradas “as regras e as partes” constitutivas do “método português” de pregar:
- O tema (em latim),
- A proposição,
- A divisão
- A prova ou confirmação com os textos das Escrituras, i.e., o “conceito predicável”,
- A amplificação com recurso aos lugares comuns,
- A confutação [i.e., refutação: demostrar a falsidade de um dito ou argumento contrário] e, por fim,
- A peroração, onde se devia colocar a conclusão e insistir na persuasão.

Notar ainda a  importância das funções tradicionais da oratóriadelectare (deleitare), docere (ensinar) e movere (mover ou influenciar o comportamento do ouvinte, como na PUB). O seus sermões, Vieira pretende cativar os ouvintes, de modo a cumprir as funções do sermão, ou seja, deleitar (delectare), coagir com/persuadir o auditório («movere»), levando-o a alterar o seu comportamento («docere»).
Será ainda interessante ler o texto sobre o  sermão como “um ritual social”: v. 1º parágrafo, p. 46.

2. Em que situação foi escrito e proferido este sermão?

Os mais conhecidos sermões de Vieira prendem-se a conjunturas históricas determinadas: o sermão de Santo António aos peixes, pregado em S. Luís do Maranhão em 1654, ilustra a sua imaginação e poder satírico na simbologia que atribui aos peixes.
No princípio de 1653, Vieira chegou ao Maranhão, onde foi recebido com muito júbilo, mas também com a má vontade do capitão general e do povo. Nesse estado, assumiu um papel muito ativo nos conflitos entre jesuítas e colonos, como paladino dos direitos humanos, a propósito da exploração dos indígenas. Quando então se publicou uma lei mandando restituir os índios cativos à liberdade, houve uma verdadeira sublevação, chegando a estar em perigo o colégio da Companhia.
Em 1654, rês dias antes de partir para Lisboa, o padre Antóno Vieira pregou o Sermão de Santo António aos peixes, que é uma das obras-primas da sua eloquência.
Embarca, quase às escondidas, em Junho, para Lisboa a fim de obter novas leis favoráveis aos índios. Durante a viagem padece, mais uma vez, grandes tempestades e caiu nas mãos dum pirata holandês, que, após roubar a embarcação, deixou a tripulação nas ilhas dos Açores. Vieira demorou algum tempo naquele arquipélago, onde foi muito festejado. Na ilha de S. Miguel pregou o sermão de Santa Teresa, perante um auditório entusiasmado.
Chegou a Portugal no mês de novembro de 1654. Quando se encontrou com o rei D. João IV, Vieira expôs-lhe o assunto a que vinha, conseguindo que se tomassem as medidas que ele desejava em relação aos índios, e partiu enfim de novo para o Maranhão a 16 de abril de 1655.

3. Porquê o nome deste sermão?

Trata-se de uma homenagem a Santo António, tendo sido pregado no dia de nascimento deste santo; segue o exemplo do sermão do próprio Santo António, dirigido aos peixes; tal como Sto. António tenta converter os hereges, também Vieira tenta evangelizar os colonos portugueses no Brasil.

4. Qual o propósito deste sermão?

Vieira pretende influenciar o auditório, levando-o a refletir e a alterar os seus atos. De acordo com a linguagem utilizada no sermão, o pregador pretende evitar o mal e preservar o bem, i.e., o sal deve salgar a terra.
Como se diz no início do nosso manual, por um lado, este sermão “é um texto religioso, que promove as virtudes do cristão e procura evitar que ele caia no pecado.” – e nesse sentido é um texto datado, com um propósito muito específico (veja-se a resposta a “Em que situação foi escrito e proferido este sermão?”). Todavia,  por outro lado, e em sentido mais lato, “é também um texto com uma relevante dimensão cívica, tendo em conta que o pregador reflete sobre questões intemporais das sociedades humanas e sobre circunstâncias do seu tempo.” (cf. P. 47 do manual).



[1] Exórdio ou introito, em que o orador expunha o plano que iria defender, baseado num conceito predicável extraído normalmente da Sagrada Escritura;
[2] a invocação, em que se invocava o auxílio divino para a exposição das ideias;
[3] a confirmação ou argumento, em que se fazia a exposição do tema através de alegorias, sentenças e exemplos para deles tirar ilações
[4] Peroração, a última parte do sermão, em que o orador, recapitulando o seu discurso, usava um desfecho vibrante de forma a impressionar o auditório e a exortá-lo, a pôr em prática os seus ensinamentos.